segunda-feira, 10 de agosto de 2009

De braços abertos, corre e vive.

Ele corria, corria. Nem ele mesmo sabia como tinha fôlego pra tanto. Apenas queria distanciar-se de tudo. Não conseguia mais viver de uma forma que ele não escolheu. Quis ser livre pra ver tudo o que queria, pra ser tudo o que sonhou. E tudo começou assim:
Solitário ele não precisava de muito. Suas roupas já esgarçadas, seu tênis que não tinha mais solas, algum dinheiro no bolso apenas pra comida, disposição e o principal: LIBERDADE.
Celular ele queimou, o carro e a moto nem ele mais sabe onde estão. Jogou tudo o que conseguiu até hoje para o ar. Cansou-se do marasmo, se cansou da rotina, maldita rotina. Quis surpreender a si mesmo quando decidiu viajar apenas com suas roupas e o pouco dinheiro. Para os amigos e família ele só disse: “Até logo, irei seguir meu caminho e talvez um dia eu volte”. Ele, simples e desajeitado foi pedindo carona para qualquer lugar. Sua cabeça se focava apenas em experiências novas e alucinantes. Nas noites escuras e frias ele precisava apenas de uma caneta e qualquer pedaço de papel. Dizia ele que as palavras tinham poder. Passava tempos e as pessoas sentiam falta dele e ele a única falta que sentia era de uma boa cama, nada mais. Ele dormia em albergues baratos, às vezes na barraca de lona... Sem contar nas noites que passou viajando nas carrocerias dos caminhões. Nunca havia se sentido tão completo, ele agora vivia como queria, falava sozinho, corria e algumas vezes ele arrumava bicos em fazendas, tudo pela experiência. Ele queria viver ao contrário dos jovens da idade dele que só queria baderna. Ele queria é ter uma vida repleta de emoções verdadeiras, e deixou coisas passageiras de lado apenas para viver assim, sem rumo e feliz.
Em seu diário, que mais parecia um caderno de rascunho de tantos rabiscos e desenhos, ele escrevia todos os dias, sem compromisso, sem enfeites, sem querer relatar isso a alguém. Palavras ecoavam em sua cabeça, na ponta da caneta eram transformadas, em uma passagem ele disse: “Existem coisas na nossa vida que sabemos apenas quando passamos por momentos ruins, momentos em que você desejava apenas um banho quente ou aquele carinho da pessoa que gosta e não tem nada disso, momentos que guardam magoas e desprezo pela mísera vida. Não acredito mais em tudo o que vejo. Quero vida de verdade, quero correr, correr, viver, ser feliz... Cantar sem ninguém me julgando, brincar, pular e conversar a qualquer hora da madrugada. Minha vida sempre foi cheia de compromissos, horários e tudo mais. Eu vejo em mim muito mais do que qualquer coisa que eu vejo nos carros e roupas importados, vejo um sonho, uma vida... Vejo um calor imenso de sabedoria que eu ainda estou atrás. Vejo em mim o que eu gostaria de ver em todos. Quero um pouco de loucura pra transformar minhas razões e quero razões para ter mais loucura. Quero uma cabana numa ilha, uma água, quero sol e ar. Não preciso de muito, quero sorrir para mim mesmo. A saudade bate, a dor da ausência é forte. A razão de estar saindo daquele senso comum de ter uma casa na melhor avenida ou ter aquele carro do ano, não é pra ser diferente, é estilo de vida, é meu estilo. A vida na sociedade é cheia de regras e a minha regra é ser feliz. Eu quero correr... Correr...” Graças a esse delírio repentino de sair do até então seu “mundinho sem sal nem açúcar” ele deixou mais uma mensagem no seu diário: “Que bom se todos ouvissem minhas felicidades por aí. Eu estou feliz, a saudade bate... Mas não posso voltar agora. Vivo aos olhos da lua, e na lua eu vejo que o amor que eu desejo é o amor de me amar. E por enquanto eu estou me amando, amo todos os outros também, mas eu me quero nesse momento... Um dia eu volto, claro. Mas por enquanto eu corro e corro.” Enquanto o mundo quer salvar o planeta ele quer seu universo, todo dele, que ninguém mais pode ter. Ele volta claro... Mas ele corre... E corre.

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